O livro descreve tratamentos e curas tradicionais utilizados pelo povo Huni Kuin do rio Jordão, onde estão catalogadas 109 plantas e suas diferentes formas de utilização. A catalogação das plantas seguiu a sistematização do conhecimento segundo os próprios pajés Huni Kuin, de acordo com a sua nomenclatura tradicional e divisões por famílias e grupos. Escrito em parceria com o Jardim Botânico do Rio de janeiro, o livro traz também a nomenclatura científica das plantas.
A autoria do livro é dos pajés Huni Kuin do rio Jordão que durante anos, sistematizaram as informações tradicionais que posteriormente foram reunidas no livro. Os organizadores são o pajé Agostinho Iká Muru, do Jordão e Alexandre Quinet, taxonomista do Jardim Botânico, editado pela Dantes Editora.
Considerado uma iniciativa pioneira de diálogo entre os saberes tradicionais e científico, a indicação do livro como finalista do Prêmio Jabuti foi recebida com entusiasmo por pela editora Anna Dantes, da Dantes Editora.
“O livro não tem fins lucrativos, trata-se muito mais de um exercício de coletividade”, explica ao site Juruá Online.
Os dez por cento referentes aos direitos autorais do livro são repartidos com os indígenas que de alguma maneira, trabalharam no processo de edição.
Fonte “Hatxa Kuin”
Uma das particularidades do livro é a profusão de detalhes em “kenê” – desenhos geométricos tradicionais que configuram uma forma de linguagem cultural muito presente na cultura e na arte huni kuin.
Anna Dantes explica que a editora criou uma fonte própria para a edição do livro, baseada na forma com que os próprios pajés e professores huni kuin escrevem em seus cadernos de anotações. A fonte foi batizada de fonte Hatxa Kuin palavra que designa a língua Huni Kuin.
Planta Mestra
Um dos pontos altos do livro Una Isi Kayawá, é que não se trata de um simples catálogo de plantas medicinais, e sim, da apresentação de um sistema de tratamento próprio, onde estão presentes, as tradicionais infusões de plantas medicinais, mas também o uso na forma de colírio, as defumações, os sopros, o rapé e os cantos que fazem parte desta medicina.
Um dos fundamentos básicos do sistema de medicina tradicional nativa é que uma planta não se resume a ideia reducionista de um princípio ativo que possa ser isolado e patenteado conforme a vontade e o desejo da ciência.
A concepção indígena trabalha com a possibilidade de uma planta inclusive ser uma “professora”, ou seja, ela própria, indicar ao pajé, qual o melhor caminho de cura para determinado paciente.
“Não é apenas um princípio ativo, mas sim, um poder, uma inteligência, que opera junto com o planeta para a obtenção da cura”, nos conta Anna.
“O maior resultado do livro não é o financeiro, mas sim o entendimento de que existe outra forma de cura que envolve a espiritualidade, e o reconhecimento de uma matriz de pensamento indígena que tem a generosidade de compartilhar este conhecimento com todos nós”, conclui. O resultado do Prêmio Jabuti será conhecido no dia 19 de novembro.
Ac24Horas
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