11 de junho de 2011

Hugo Brito faz Homenagem a Machado de Assis

Hugo Brito

 Homenagem a Machado de Assis
Capitu, inocente ou culpada ?

Todos aqueles que si consideram leitores já devem ter lido ao menos uma obra de Machado de Assis. E quem ler as obras deste gênio artesão das palavras já se encantou com o romance Dom Casmurro. Essa obra-prima representa a confirmação da chamada fase romântica da carreira literária de Machado de Assis, posto que esta fase tem início com a obra Helena que não agrada a sociedade crítica da época. Dom Casmurro não só sana esta visão turva dos olhos desavisados como também se torna um marco na vida do autor atravessando a poeira do tempo e encantando gerações.
Embora o romance tenha sido publicado em 1899, continua, mesmo no século vinte e um, a buscar o resultado para o seguinte julgamento: Capitu traiu ou não Bentinho ?
A certeza ou não do Adultério de Capitu e Escobar se torna complexa, já que o personagem narrador apresenta no desenrolar da história, vários indícios, provas e até contra provas. Tudo o que se sabe é através de Bentinho que narra os fatos. E aí tem inicio a genialidade de Machado de Assis, atentando-se para a escolha de uma narrativa em primeira pessoa (personagem-narrador). O escritor foi brilhante ao estruturar o romance tanto de provas quanto de contraprovas. Essa iniciativa deixa nas mãos do leitor este difícil julgamento: Capitu, inocente ou culpada ?
Durante a narrativa, Bentinho não esconde suas preocupações, o que leva o leitor a imaginar que sua narrativa é fiel. Porém, o próprio Bentinho chega a fazer a seguinte afirmação: “... a imaginação foi a companheira de toda minha existência...” levando o leitor a um verdadeiro duelo de conclusões. Chegando a imaginar que a obra não passa de uma visão feita a partir da óptica enciumada de Bento de Albuquerque Santiago. Afinal, é esse ciúme generalizado de Bentinho que toma conta de toda a narrativa, permitindo ao leitor a concluir que talvez Dom Casmurro foi precipitado ao deduzir que Capitu amava Escobar. Já ao principiar a obra, mesmo leitores desavisados, nota-se a presença do ciúme durante toda a narrativa: “Diante dessa fagulha, que bem podia ser uma maldade do agregado ou pura provocação, Bentinho se vê possuído de um sentimento cruel e desconhecido, o puro ciúme.” Mesmo casados o ciúme continua a fazer parte da vida de ambos; Bentinho tem ciúme do mar, quanto Capitu olhando para este mantém seu olhar perdido, como vasculhando as reminiscências: “Venho explicar-te que tive tais ciúmes pelo que podia estar na cabeça de minha mulher, não fora ou acima dela.”
Esse sentimento de posse e medo da perda é tanto que Dom Casmurro chega a declarar, em determinado ponto da narrativa, que chegou a tê-lo “de tudo e de todos” e acrescentou: “Um vizinho, um par de valsa, qualquer homem, qualquer moço ou maduro, me enchia de terror ou desconfiança”.
Após estas breves descrições acerca de Bentinho, o leitor pode ser levado a crê que toda a obra resumi-se em um desabafo ciumento, e que narra apenas as supostas verdades que os olhos embriagados de ciúmes de Dom Casmurro conseguem enxergar, dando-lhe pois uma visão distorcida da verdade.
Mas o leitor fica aturdido com a presença de provas de adultério. Segundo o agregado José Dias, Capitu possuía “Olhos de cigana oblíqua e dissimulada”  o que para  Bentinho pareciam com “olhos de ressaca”  Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, com a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca”. Outra passagem que se põe em evidência o clima de traição são as duas visitas feitas por Escobar a Capitu em casa na ausência do marido.
Assim nada é esclarecido sobre o possível adultério, e o próprio Bentinho afirma: “ Não é claro isto, mas nem tudo é claro na vida ou nos livros”. Dom Casmurro é uma narrativa incompleta que apresenta lacunas a serem preenchidas por quem ler a obra. Levando o leitor a concluir se Capitu é ou não fiel, ou permanecer na dúvida infinita.
Observando essa trama devemos tirar dela várias reflexões, uma delas é de que somos ciumentos porque temos medo de que alguém roube o que fantasiamos nos pertencer. Outro ponto importante é de que Verdades radicais devam ser eliminadas, viva o diálogo. Mesmo que eu continue com idéia anterior o que importa é que eu permita o confronto, o contrário. O conhecimento ajuda a por fim o radicalismo.
Machado de Assis, assim como Rui Barbosa, ao menos é para mim, um homem que pontificou no plano da elaboração mental, e que mesmo hoje, por meio de suas apaixonantes obras, tem a capacidade de adentrar todas as profundezas da alma.

 Por Hugo Brito
Jordão Acre, 06,06,2011

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