10 de dezembro de 2018

Movimento Novembro Azul chama atenção para cuidados com saúde masculina

Iniciativa enfatiza a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata
Daigleíne Cavalcante e Kézio Araújo
Historicamente os homens cuidam menos da saúde, principalmente, em relação a algo que os especialistas consideram mais importante: a saúde preventiva. Para tentar mudar essa realidade nasceu o Movimento Novembro Azul, focado em atividades de prevenção ao câncer de próstata, mas com ações preventivas para todas as áreas da saúde masculina.
Pesquisa do Ministério da Saúde, realizada em 2007, aponta que três em cada dez homens não procuram serviços de saúde. De cada cinco óbitos, na faixa etária de 20 a 30 anos, quatro são do sexo masculino. Além disso, os homens morrem mais que as mulheres em todas as faixas etárias.
Culturalmente, os homens só vão ao médico quando já estão doentes, mas é aí que mora o perigo. Muitas vezes, as doenças são descobertas tardiamente, resultando em morte ou complicações à qualidade de vida do paciente.
Um dos vilões da falta de atenção à saúde preventiva é o câncer de próstata. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é segundo tipo de câncer que mais mata no país. Aproximadamente 17 mil pessoas morrem todos os anos por causa da doença e a estimativa é que o Brasil feche 2018 com mais de 68 mil novos casos.
“O diagnóstico precoce é o caminho para a cura. O que procuramos neste mês é intensificar para nós, homens, a importância de fazer anualmente os exames de rotina. O Ministério da Saúde preconiza, na saúde pública, que sejam feitos exames em homens a partir dos 50 anos, ou com 45, caso haja histórico familiar da doença”, afirma Mauro Trindade, urologista.
Preconceito que dificulta o diagnóstico
O primeiro exame realizado como prevenção ao câncer de próstata chama-se PSA, que é a sigla para Prostate-Specific Antigens, ou antígenos específicos da próstata em português. O exame nada mais é do que uma amostra de sangue que é colhida e enviada a um laboratório para análise.
O grande preconceito em relação à prevenção ao câncer de próstata é o exame de toque retal, que pode ser necessário dependendo do resultado do PSA e da avaliação médica.
“Temos duas barreiras para ultrapassar. Uma é a dificuldade dos homens em procurar pelo serviço de saúde. A outra é cultural, já que os homens têm vergonha, se sentem menos macho por conta de um exame que é muito simples, indolor, que dura menos de 15 segundos e que pode salvar a vida de uma pessoa”, explica Trindade.
Luta contra o câncer
Manoel de Edberto Cavalcante, 64, luta contra o câncer de próstata há 3 anos (foto: cedida)
Os dois fatores citados pelo médico foram exatamente os contribuíram para que o produtor rural Manoel de Edberto Cavalcante, 64, só descobrisse a doença após sentir sintomas graves.
Morador da zona rural da cidade de Feijó, o senhor Cavalcante só procurou ajuda médica após sentir sérias dificuldades para defecar. Na época, ainda em 2007, foi até o hospital da cidade em que vive, mas não obteve o diagnóstico. Passou ainda por consultas médicas na Bolívia, em que foi diagnosticada apenas uma alteração da próstata.
Antes de 2007, ele não tinha muitas preocupações com saúde. Uma das motivações era que residia no seringal Santa Rosa, que fica a uma distância de três dias de barco da cidade de Feijó, lá os atendimentos médicos eram raros.
O diagnóstico de câncer de próstata só veio em outubro de 2016, após ser submetido a uma biópsia no Hospital das Clínicas, em Rio Branco.
“Fiquei muito abalado quando recebi aquela notícia. Mas, o médico me tranquilizou quando me orientou que a doença tem tratamento, passei por uma cirurgia em julho de 2017 para a retirada do tumor”, conta o produtor rural.
O longo tratamento
Por falta de recursos no Estado, Manoel de Edberto Cavalcante viajou para Porto Velho, onde foi submetido a 33 seções de radioterapia. Não tendo familiares naquela região, foi encaminhado para a casa de apoio, onde ficou por três meses.
De acordo com o senhor Manoel o tratamento segue, porém em uma fase menos dolorida. “A cada três meses vou em Rio Branco tomar medicamento e passar por exames de acompanhamento. No início foi bem difícil, mas, com o tratamento, hoje tenho uma vida normal”, comenta.
Esperança pelo fim da batalha
Manoel deve tomar as medicações até março de 2019, quando passará por novos exames para avaliação. “Com a graça de Deus estou me sentindo confiante de que receberei alta”.
Ao ser perguntado sobre o que faria de diferente em relação a sua saúde se pudesse voltar a juventude o produtor rural não hesita em aconselhar os homens mais jovens. “Todos devem ter uma rotina de exames, ter o máximo cuidado porque a saúde vale ouro”.
A enfermeira Jocelene Soares, que é gerente da divisão de saúde do homem da Secretaria de Saúde do Acre fala sobre a importância do Novembro Azul e como as ações preventiva são intensificadas no Estado.

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