Hugo Brito |
Os jovens dos sonhos castrados
A última edição do programa Profissão Reporte, transmitido pela Rede Globo de Televisão, fez uma triste descrição sobre a juventude do álcool imediato, a juventude que atropela valores, destrói princípios morais, enfim, a juventude atual.
Cenas como essa não nascem de imediato. Ela é a conseqüência de todo um processo de escolhas livres. Não é tão difícil encontrar vontades de filhos, mesmo que não sejam saudáveis, sendo realizadas pelos próprios pais como uma forma de evitar choros. Acredito na máxima de Pe. Fábio de Melo quando diz que evitam-se os choros de hoje, mas desconsideram que podem estar plantando choros ainda mais profundos e desesperadores, que serão chorados no futuro. Ainda enveredando na linha de raciocínio de Fábio de Melo, ele relata em um de seus livros que já testemunhou um final de festa na cidade de São Paulo. Segundo ele, o sol já havia nascido e um grupo de rapazes e moças se amontoava numa calçada imunda. Dividiam uma porção de cocaína sem nenhum receio de serem abordados por alguma autoridade policial. Dizia ele serem cruéis as imagens. Era possível perceber que todos eles já estavam abatidos e cansados. As expressões faciais denunciavam uma espécie de desprezo pala vida, pelo mundo. O reporte que fazia a cobertura do fato fez o seguinte comentário: “É lamentável perceber que este é o café da manhã dessas pessoas!”.
No livro Cartas entre Amigos sobre medos contemporâneos, escrito pelo padre Fábio de Melo e o Doutor e professor de direito Gabriel Chalita, há uma aguda reflexão filosófica feita através de inspiradas trocas de cartas banhadas de razão, sobre a juventude atual. No livro o Dr. Gabriel revela a seu amigo a sua nítida preocupação para com os jovens:
“Padre Fábio, um tema que tem me intrigado sobremaneira é o esgotamento de vida roubada por uma juventude sem tema. São meninos e meninas que se encontram nas esquinas da vida e que decidem sem decidir. Envolvem-se em desonestidades afetivas. Entregam-se de olhos cerrados ao nada. E choram a dor doída da incompreensão. Povoam as festas fartas de vazio e vazias de significado. Bebem para esquecer e se amam sem amor na busca de preencher o nada da vida. Festas em que a cegueira conduz os festeiros. Matam a si mesmos e ao outro. Matam na dor moral do abraço destituído de razão ou no braço capaz de ferir violentamente um igual.
A violência é companheira desses viajantes iniciais. São os jovens que mais matam e mais morrem. São eles que povoam os presídios. São eles que ateiam fogo em pessoas, e que, covardemente se desunem para agredir brutalmente. E o medo toma conta de quem tem de participar dessa teia. De quem entra na faculdade e pode se deparar com os abusos dos que chegaram primeiro. De quem entra em uma festa e se sente obrigado a se drogar para pertencer. De quem sai de si e faz o que mandam apenas para provar que não tem medo.”
Esse é o retrato da juventude dos sonhos castrados; juventude Super-mam; os donos das ruas; a juventude vitoriosa movida com a cegueira provocada pelas drogas. Sensação de falsas alegrias.
Como se não bastasse, há ainda aqueles poucos jovens que acreditam na vida como um projeto viável, na possibilidade da realização de um sonho, mas são vítimas ou da pessoalidade de políticos que deixam em descaso municípios como o meu, estreitando ainda mais as vagas universitárias, ou da deformação humana que é capaz de ações desumanas.
Quem não lembra do jovem Alcides, filho de uma catadora de lixo, dona Maria Luiza. Sua história foi contada em vários teles jornais. Ele foi aprovado em primeiro lugar entre os alunos da escola pública no concorrido vestibular na Universidade Federal de Pernambuco para o curso de Medicina. Dona Maria teve a maior alegria de sua vida ao sair o resultado do vestibular, afinal, tinha educado Alcides e suas três filhas catando lixo. Eis que a ignorância humana atravessou o caminho desta pobre família, destruindo o sorriso de dona Maria e sepultando para sempre os sonhos de Alcides. Nas vésperas da formatura, o jovem foi assassinado com dois tiros na cabeça em frente a sua própria casa, aos 22 anos de idade. Os jornais sensibilizaram o Brasil ao mostrar Dona Maria Luiza vestindo a bata branca que o filho usava no estágio e que agora era apenas um traço de saudade para a mãe guerreira.
O reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Amaro Lins, desabafou:
“Que seja um exemplo para todos os jovens escravizados ou não pelas drogas, e que todos nós possamos nos empenhar para mudar esse país e dar oportunidade a milhões de “Alcides” que estão espalhados em todos os recantos, para que eles não venham a ter um fim trágico como esse. Para que eles possam ter o futuro que Alcides teria, caso esses marginais não tivessem ceifado sua vida”.
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